Pornografia e greves trabalhistas em Santa Catarina

Ana Russi 
Professora e militante em Direitos Humanos 

A realidade do trabalhador catarinense é ilustrada por problemas que, de tão velhos, parecem até congênitos! A diferença é que, neste momento, nossa paciência realmente chegou ao limite, pois o tratamento dado ao proletário chegou a níveis absolutamente pornográficos. Por consequência, as questões deixaram de ser pequenos rancores manifestados em reclamações voláteis; a mágoa, agora, é coletiva e de grande dimensão, pois tanto desrespeito, enfim, tornou-se a gota d’água para nós! 

Resultado: o estado está em greve! 

Só no mês de junho, ocorreram ou estão em andamento em Santa Catarina: 
  • Greve dos professores da Rede Pública Estadual; 
  • Greve dos servidores do município de Blumenau; 
  • Paralisação dos Técnicos em Enfermagem do Hospital santa Inês, em Balneário Camboriú; 
  • Greve dos servidores Municipais de Joinville; 
  • Assembleia dos Servidores da Saúde pela rede estadual; 
  • Por todo o estado, assembleias e reuniões de sindicato estudando a possibilidade de paralisação. 
No caso dos profissionais da educação, a fúria transbordou perante a imoralidade das ações do atual governo do Estado de Santa Catarina em relação à classe. A atitude de Raimundo Colombo em não pagar o piso e transformar suas obrigações com os educadores em moeda de troca constitui ofensa tamanha que nos deixa a terrível impressão de que o estado pode, a qualquer momento, recorrer ao Supremo para nos tirar as férias, o décimo terceiro, a licença-maternidade e tudo o que é tão legalmente garantido quanto o piso salarial! 

Essa sacanagem acontece em todas as áreas – mesmo aquelas que são consideradas as necessidades básicas sociais. Basta ir a Balneário e conversar com um técnico em enfermagem do Hospital Santa Inês. Lá, esta função, que envolve o cuidado e contato direto com o enfermo (sendo assim personagem decisivo no seu processo de recuperação) recebe um salário de 660 reais para fazer esse serviço essencial! É ou não é uma obscenidade?


E estamos apenas dentro dos limites territoriais de Santa Catarina! Se colocarmos aqui as razões das paralisações em outros estados, a putaria descrita neste texto será alvo certo de censura. Basta citar que, no momento, são oito os estados cujos trabalhadores em educação estão em greve: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, Sergipe, Ceará e o nosso. 
O quadro atual é tão diferenciado das greves passadas que até os meios de comunicação convencionais apoiam os movimentos. Os grevistas são calejados com o tratamento da mídia, e não é pra menos. Estamos acostumados a ver o “sofrimento da população que fica sem os serviços” estampado nas primeiras páginas dos jornais, numa crítica direta aos movimentos trabalhistas. Pois agora, não é que a própria mídia de massa está defendendo e em alguns casos até compartilhando o manifesto com os trabalhadores? 

Ou seja: as razões podem ser as mesmas, mas desta vez, paramos porque simplesmente acabou a ética no tratamento dado pelo empregador ao trabalhador. Há tempos a questão não é mais sobre pequenos reajustes ou agrados em troca da eficiência dos serviços. Trata-se das instâncias superiores das esferas pública e privada limparem a ganância de seus olhos para enxergar o colapso da classe trabalhadora, que teve suas dignas funções transformadas em subempregos onde se trabalha muito, recebe-se nada e ainda convive-se com a obrigação de mostrar um sorriso no rosto, uma meta atingida, um resultado impecável! O que é isto? Estamos revivendo o massacre de nossos antepassados à época da Revolução Industrial? Vamos retroceder ainda mais na relação patrão-empregado? Porque se for isso, o próximo passo será permitir o uso de troncos e chicotes nos locais de trabalho! 

Il Quarto Stato - Giuseppe Pellizza da Volpedo - 1901
Mais uma vez o CDDH – Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Blumenau se junta à indignação do trabalhadores para colocar um ponto final nesta imoralidade! Se as razões são as mesmas, e velhas conhecidas, neste momento elas nos unem e identificam o trabalhador catarinense – de toda a classe e esfera – em um só grito, coletivo e fervoroso: NÓS EXIGIMOS RESPEITO!!!