ENTREVISTA: Edson de Mendonça, juiz-corregedor do Presídio Regional de Blumenau

“O Estado abandonou Blumenau”

ENTREVISTA: Edson de Mendonça, juiz-corregedor do Presídio Regional de Blumenau


Clipping - Jornal de SC - Nº 12198 - Sexta, 11/03/2011

Em março de 2010, o Presídio de Blumenau foi interditado pelo juiz-corregedor, Edson de Mendonça, para que não entrassem mais detentos na unidade, além dos 761 que lá estavam. Em agosto, o limite subiu para 800. Mas a imposição de Mendonça tem sido descumprida com os atuais 884 presos. O juiz-corregedor alerta para possível nova interdição.

Jornal de Santa Catarina - Com 884 detentos para 472 vagas e expectativa de chegar a mil presos até maio, o que pode ser feito imediatamente?

Edson Marcos de Mendonça -
 Em 2007, tínhamos 500 presos e desde lá o que se fez foi apenas construir alas para absorver a demanda interna que já existia. O baixo número de agentes é um risco para o profissional que tem de trabalhar durante um plantão com seis pessoas para 884 detentos. Entre as alternativas estão a construção de unidades prisionais avançadas em Gaspar, Timbó e Pomerode. Além disso, temos todo o contingente feminino de detidas que vem para cá. Outra coisa é a instalação de uma penitenciária industrial aos moldes de Joinville. O que não dá é para termos uma unidade que teria de abrigar presos provisórios e tem 514 condenados.

Santa - O que foi determinante para passarmos de 500 presos há quatro anos para 870 hoje?

Mendonça -
 A criminalidade aumentou, associada ao tráfico de drogas. A falta de investimentos e de atenção para a questão carcerária resultaram nisso. O Estado vira e mexe anuncia criação de vagas, mas quase sempre trata-se de uma reforma ou construção de ala para absorver demandas. Foi o que ocorreu em Blumenau.

Santa - O Estado perdeu o controle?

Mendonça -
 Se o Estado ainda não perdeu o controle do Presídio de Blumenau, está em vias de perder. Se eu abrigo presos, preciso de estrutura que me dê condição de controlar os detentos. Temos sérios problemas, como atrasos em audiência e escoltas por falta de motoristas.

Santa - Podem haver novas interdições?

Mendonça -
 Não tenho outra alternativa a não ser reunir novamente os órgãos ligados à segurança pública, sob pena de que se não tivermos opções, vamos partir para mais uma interdição.

Santa - Se for confirmada a previsão de chegar a mil presos, o que se pode esperar?

Mendonça -
 A sociedade pode ter certeza que, se chegarmos a mil, o Estado abandonou de vez o Presídio Regional de Blumenau. A sociedade deve se unir às entidades que representam a população para cobrar do Estado uma solução definitiva.