Extinção Indígena

Jornal de SC - 18/04/2011 - N° 12230

ARTIGO
Extinção indígena
Rafael Lopes de Matos*

Antes eles eram garbosos, hígidos e imponentes guerreiros espalhados pelas nações e etnias que vagavam livres pelas terras pré-cabralianas. Hoje são párias, alienados social e culturalmente, como que condenados à pobreza absoluta nos currais de reservas improdutivas, ou na insalubridade dos esgotos das cidades. Essa é uma verdade inquestionável a que vivencia a sociedade brasileira do presente: a lenta extinção dos povos indígenas. Indiferença, desprezo e desrespeito são acusações mínimas que se pode atribuir às autoridades brasileiras, aos órgãos responsáveis e à sociedade nacional como um todo, por esse crime perverso, absurdo e injustificável sob todos os aspectos.

Imagem: filoparanavai.blogspot.com

Dos milhões que habitavam a terra de Pindorama só restam alguns poucos descaracterizados das suas raízes, doentes e abandonados como cães sarnentos, à mercê da sorte e das esmolas que recebem. Nada, ou quase nada, resta dos pataxós, dos cariris e cariús do Nordeste; dos tamoios, dos timbiras, dos terenas, bororos e guaicurus do Centro-Oeste; ou dos guaranis, charruas, minuanos e caiguangues do Sul. Todos se foram, levados pelas doenças, pela pobreza e pela ganância da civilização alienígena que acolheram há 500 anos.

Na Amazônia, último reduto de uma luta fratricida e desigual, os seus povos igualmente desaparecem misturados à fumaça das queimadas das suas sagradas matas. Os que ainda resistem, nem de longe lembram índios na sua pureza autóctone. Perderam-se pelos caminhos tortuosos da corrupção e de tantas outras mazelas perpetradas pelo homem branco. Desprotegidos, são vítimas fáceis.

Por não renderem votos, não gerarem discussões polêmicas ou escândalos bem ao gosto da sociedade que os despreza, não demorará e não se terá mais no Brasil gigante do Século 21, nem guaranis, nem caiguangues, nem ticunas, nem xavantes, nem aruanás, mas arremedos de homens sem origens e sem causas, sem presente ou futuro, sem orgulho e sem pátria. Por serem índios, serão ninguém na terra que era deles.

*Acadêmico de Jornalismo